A irmã mais velha da Unipampa

Como Maria-Beatriz Luce ajudou a erguer uma universidade do zero no sul do Brasil

Frederico Tarasuk
3 min readDec 4, 2020

Com mais de 50 anos de docência, a professora titular da área de Política e Gestão da Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maria-Beatriz Luce se orgulha ao fazer a parte dela na busca por uma educação pública de qualidade, universal e gratuita: “eu luto muito para que os poderosos em nossa sociedade reconheçam a importância de uma base democrática na escola pública, seja na educação básica ou superior”.

Ao lado do então Ministro da Educação, Fernando Haddad, Maria-Beatriz Luce toma posse como reitora pro tempore da Unipampa em 2008. Arquivo EBC

Com esta posição bem marcada ao longo de sua carreira, a profissional demonstra sua importância. Uma pesquisa rápida no Google Acadêmico indica que desde 2006, período mais longínquo em que se encontram suas referências na plataforma, são 375 citações em trabalhos e pesquisas acadêmicas de todos os cantos do Brasil. Além disto, a educadora e pesquisadora possui uma extensa quantidade de livros sobre gestão e políticas públicas educacionais. Maria-Beatriz sabe o que defende e porquê.

Construindo novas oportunidades

Luce foi responsável, desde o fim de 2006, por ajudar a viabilizar oportunidade de educação de qualidade e gratuita para mais de mais de 10 mil estudantes, quando foi convidada pelo governo Lula para trabalhar na comissão de implementação da Fundação Universidade Federal do Pampa, a Unipampa. Hoje a instituição está presente em 10 cidades do interior do Rio Grande do Sul e conta com mais de 12 mil alunos matriculados em cursos de graduação e pós-graduação.

Em 2008, Luce foi nomeada reitora pro tempore da Unipampa, onde construiu com seus colegas a estruturação da universidade. Com todos os colegiados fortalecidos, trabalhou para a realização da gestão democrática da instituição e promoveu, junto da comunidade acadêmica, as primeiras eleições para reitoria. “Designada pela minha experiência, eu era uma espécie de irmã mais velha da Unipampa. Quando ela atingiu sua autonomia plena, que foi com a eleição da primeira reitoria em 2011, eu voltei para minha posição na UFRGS de concursada”.

Da época de Unipampa, Maria-Beatriz lembra com muito carinho das primeiras formaturas preparadas por ela e pela equipe de professores e técnicos da instituição. Ela conta que para a maioria das famílias dos formandos, era a primeira vez que um ente querido atingia a tão sonhada conclusão da educação superior e que também era um momento de prestação de contas para a comunidade. “Fazíamos muita festa pela ocasião, mas também trazíamos uma mensagem para a sociedade da importância da universidade pública, gratuita e de alta qualidade”, diz a professora enquanto dá um sorriso sincero.

Trabalho consciente e consistente

A educadora e pesquisadora tem consciência da importância de seu trabalho não só para quem estuda, mas para a economia das cidades onde os campi da Unipampa se fixaram, e também dos trabalhadores que deram suporte aos alunos. “Procurávamos fazer as compras necessárias na própria região, as construções dos prédios. Então não são só benefícios diretos, é um grande equipamento de natureza social, contando com psicólogos, assistentes sociais e que aportou recursos descentralizados para uma região do estado”.

Dos alunos, Maria-Beatriz relembra com afeto o caso de Bruna, jovem nascida em Porto Alegre e que fez, junto de sua família, enormes sacrifícios para conseguir frequentar o curso de Publicidade e Propaganda no Campus São Borja da Unipampa. Hoje, já formada, Bruna é ingressa no programa de doutorado da UFRGS e tem como orientadora Luce. “O mais interessante é que ela veio para uma linha de pesquisa de política educacional, mas o tema que ela escolheu para fazer a dissertação de mestrado — e irá se aprofundar mais nisso em seu doutorado — é exatamente nos efeitos do aumento do acesso à educação superior no Brasil”.

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